Por Emerson Linhares.*
A música ocupou um grande espaço em minha vida, apesar de eu sequer saber tocar um instrumento. Desde criança em Brasília, nos anos 70, até os dias atuais, sempre esteve presente em minhas fases de crescimento e amadurecimento.
Reconhecidamente um fã da banda The Beatles, nunca tive dificuldades em escutar os mais variados tipos de gêneros: clássica, folk, rock, pop, MPB, dance, britpop, grunge, surf music, heavy metal, jazz, enfim… Definitivamente um “eclético”.
E a música também proporciona encontrar pessoas que serão suas amigas e jamais esquecermos quando elas apresentam um cantor ou banda que nunca sairão de sua discoteca. Um exemplo: meu saudoso amigo Karlo Schneider – um inveterado beatlemaníaco – apresentou-me a banda Keane. Trouxe um CD da Inglaterra após morar uma temporada por lá. Gostei de primeira. Sugestão: ouça Untitled1, do álbum Hopes and Fears, de 2004. E aqui fica meu agradecimento a esse meu amigo que se foi tão cedo, aos 40, vítima da Covid. I’ll see you on the other side.
Conheci Cléber Dimmarzio por sugestão do advogado André Luis, para me ensinar a tocar violão. Daí nasceu uma amizade duradoura. Foi Cléber, possivelmente o maior admirador da banda, que me apresentou o Pink Floyd. Claro que eu já tinha escutado Another Brick on the Wall – quem nunca? –, provavelmente a música mais comercial dos ingleses, mas parava por aí. Eu tinha um certo preconceito com as músicas enormes e densas. Não tinha os ouvidos de ouvir e Cléber me mostrou o contrário e me fez enxergar verdadeiras obras-primas. Hoje escuto Echoes com a maior satisfação do planeta.
Com essa percepção floydiana não ficou difícil gostar e apreciar o trabalho da banda Porcupine Tree, de Steven Wilson, que tive acesso por intermédio do amigo Victor Freire. Virei fã de Wilson. Há alguns dias comecei a leitura da biografia “Steven Wilson – Uma vida na música”, de Marco Del Longo, Domizia Parri e Evaristo Salvi.
Nas páginas 72 e 73 podemos ler o seguinte: “(…) Para Steven, a fonte de inspiração fundamental vem do amor pelos álbuns duplos do Pink Floyd, como The Wall e Ummagumma, como ele mesmo declarou: ´De fato eu sempre disse que a razão principal do nascimento do Porcupine Tree é uma obsessão anormal por aquele trabalho em particular do Pink Floyd [Ummagumma], comecei a ter essa obsessão quando eu era jovem, ainda tenho e não sei quantos anos vai durar´” (…).
Possuo alguns discos de vinil do Pink Floyd, mas não tenho o Ummagumma na minha coleção e realmente não conheço a obra por inteiro. Então fui ao Spotify escutar. Primeira faixa: Astronomy Domine. Tive um choque porque tem um trecho que eu sabia que já tinha escutado anteriormente e que o que eu tinha ouvido era em uma música de uma banda ou de um cantor brasileiro. A mesma coisa. Idêntica. Fiquei martelando até encontrar a fonte de um possível plágio. Descobri. Gravei os trechos no zap de Cléber, contei a descoberta e ele sentenciou: plágio, nem homenagem era. Segundo ele, mesma frase, mesmas notas e no mesmo tom. A mesma constatação de meu irmão, Ewerton “Bakulejo” Linhares.
O plágio está na música Feira Moderna, composição de Beto Guedes, Fernando Brant e Lô Borges, e está inserida no álbum Amor de Índio, de Beto Guedes, lançado em 1978 pela EMI.
Feira Moderna tem uma “frase” que é da música Astronomy Domine composta por Syd Barret para o álbum The Piper at the Gates of Dawn, de 1967, regravada ao vivo e lançada em 1969 no Ummagumma.
Astronomy Domine faz parte do legado de Syd Barret, um gênio capturado pelas drogas possivelmente compradas numa “feira moderna” e que morreu, em 2006, provavelmente sem saber de sua importância para a história da música. Eu, que nem músico sou, desconheço se essa descoberta é genuinamente minha, porém, no mundo dos plágios, soa interessante para mim.
Parafraseando Milionário e José Rico, nessa longa estrada da vida a gente descobre de tudo – musicalmente falando.
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Emerson Linhares é jornalista, bacharel em Direito e presidente do Clube do Vinil de Mossoró.
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